Usando alta tecnologia da informação, os arqueólogos piauienses Marian Helen Silva Gomes Rodrigues e Jorlan Oliveira realizaram o Mapeamento Afetivo do Parque Nacional da Serra da Capivara, no sudoeste do Piauí, que faz um levantamento das histórias, e o georreferenciamento das pessoas que moraram na área do parque, antes que fosse criado e transformado em patrimônio da humanidade pela Unesco, órgão das Nações Unidas para a Educação e Cultura.

O projeto também forma guias turísticos que orientam as visitas ao Parque Nacional Serra da Capivara e vão unindo informações sobre as pinturas rupestres, o modo de vida dos primeiros homens americanos, mas também o modo de vida dos habitantes da região, antes que fossem transferidos para outras regiões, para garantir a preservação do acervo e dos achados arqueológicos e paleontológicos.

Marian Helen Silva Gomes Rodrigues, doutora em Arqueologia na área do Quartenário – Materiais e Cultura pela Universidade de Trásos- Montes e Alto Douro, de Portugal, afirma que o Instituto Olho D’Água, criado em 2013, por meio de um projeto científico, a partir de suas teses de mestrado e doutorado em Arqueologia, passou a descobrir quem são as pessoas e quais são as histórias e potências daquele espaço.

“O resultado de minhas pesquisas para o mestrado e o doutorado apontou que a comunidade necessitava de um trabalho mais voltado para a cultura tradicional dos povos da Serra da Capivara. É ciência aplicada em um ambiente cultural e de meio ambiente, a de uma arqueologia colaborativa”, afirmou Marian Helen.

O diferencial do trabalho do Instituto Olho D’Água é a ciência aplicada, que desenvolve um projeto de volta às origens, com o Mapeamento Afetivo dos Povos da Serra da Capivara, com os habitantes da comunidade que viveram dentro da área do Parque Nacional, antes de sua criação, destacando suas referências culturais.

Alguns sítios arqueológicos do Parque Nacional Serra da Capivara foram locais de descanso, lugares sagrados e destinados a rituais religiosos.

“Dentro disso, nós estávamos fazendo o Levantamento Georreferenciado, que servirá, inclusive, como mais um atrativo turístico da região. Nós estamos unindo aqui a ciência arqueológica com a ciência da comunidade, ciência e tradição em pé de igualdade para fomentar na comunidade o gosto pelo conhecimento e o gosto pela preservação desse patrimônio cultural”, explicou Marian Helen.

Histórias dos moradores registradas na internet

O historiador e arqueólogo do Instituto Olho D’Água, do município de Coronel José Dias, Jorlan Oliveira, afirma que depoimentos das pessoas que viviam na Serra da Capivara foram registrados para a posterioridade.

“Fizemos o estudo das comunidades, principalmente das famílias do entorno do Parque Nacional Serra da Capivara, começamos por nossas famílias e, dentro disso, iniciamos um mapeamento, juntamos as seis pessoas mais velhas e começamos a mapear, nos locais de memória, onde eles viveram há muitos anos, e eles foram nos contando as histórias deles. Fizemos o mapeamento das casas antigas, os caldeirões onde eles viviam. Cada ponto tem a história de cada um deles, e através disso, contamos essas histórias para os turistas e para as comunidades locais”, explica.

Para ele, a memória afetiva dos moradores terá grande contribuição para a história do lugar. “Eles têm muito a oferecer porque o parque tem 35 anos e terminamos por montar um roteiro turístico alternativo, usando o GPS, o Google Maps, e disponibilizamos esses levantamentos georreferenciados com as fotografias e os áudios em uma página na internet”, explica Jorlan Oliveira.

Guias criam o grupo para inserir piauienses nos achados do Parque 

Um novo grupo de guias turísticos criou a organização Tribos da Capivara e passou a oferecer não só as informações sobre as pinturas rupestres, sobre a megafauna e as descobertas arqueológicas que apontam a presença dos primeiros homens americanos há mais de 100 mil anos no sudoeste do Piauí, mas passou a incluir em seus roteiros as informações sobre os piauienses contemporâneos que viviam na região.

A exemplo de histórias que foram vividas ou relatadas pelo agricultor Lourival Dias Gomes, de 70 anos, que mora no município de Coronel José Dias. 

“Eu contava minha história, de meus pais e de meus avós para esses meninos e meninas, que agora se formaram em arqueologia e outras
áreas, muitos deles choravam. A parte mais velha, meus pais contavam para mim, que já tinham sido relatadas pelos pais deles”, afirmou Lourival Dias Gomes.

O guia turístico Luciano Gomes da Silva, graduado em Matemática, afirma que, ao falar do Parque Serra da Capivara, lembra que durante a Segunda Guerra Mundial os agricultores extraíam a maniçoba, que era vendida para fora do Piauí e que era a garantia do sustento de suas famílias até o preço cair e as famílias passarem a trabalhar na roça e criar animais.

“Nós inserimos as histórias das pessoas da região”, declarou Luciano Gomes.

Veja vídeo:

https://www.meionorte.com/videos/novas-descobertas-em-sao-raimundo-nonato-podem-impulsionar-o-turismo-na-regiao-49331

Marcações: mapeamento;
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